A branda luz, que emana do único
poste, alimenta minhas mais lancinantes lembranças. Talvez o clima lúgubre,
talvez meu corpo sempre disposto e aberto ao passado, talvez eu ainda presa às
maldades da memória. Aquele pequeno
alaranjado se mostrando tímido quando olho pela janela e alguns insetos tornam a
paisagem, ironicamente, mais morta. Eu escaparia se fosse possível. Mas a cena,
ao mesmo tempo em que me puxa, me faz imergir num emaranhado de sonhos e
sensações do que outrora foi real. A
minha relação com um poste de pouca luz nunca foi tão íntima, na verdade, a
minha relação com um poste qualquer. Olhar pela janela nunca foi tão
aterrorizante e tentador. Finalmente rompo a catarse, consegui segurar as
pálpebras em um piscar. É um momento delicado, exige destreza. Já não estou coberta
de recordações. Fecho a janela de olhos fechados, agora estou atenta: abrir os
olhos e ver, sempre foi um risco.
"...abrir os olhos e ver, sempre foi um risco."
ResponderExcluir'caia na estrada e perigas ver...'
ResponderExcluir*-*
ResponderExcluir